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Mas ele parece NoRmAL, enfrentando “um mundo à parte”



Quando nos deparamos com uma pessoa que, à primeira vista, “parece” normal, é comum ouvir a expressão “mas ele parece normal”; em seguida, evocamos outro pensamento, "mas eu acho que ele tem alguma coisa".

Afinal, o que é SER normal? Sobretudo em tempos de relações interpessoais tensas. à luz do “Ensaio sobre alguns problemas relativos ao normal e o patológico”, Georges Canguilhem (1904-1995) indaga: “Existem ciências do normal e do patológico?”. Pergunta complexa, demanda problematizar respostas. A influencia positivista nos leva a sedução binária de responder: “certo - errado”; “normal – anormal”; “saúde – doença”. A medicina instaurou o conceito de normal e, por decorrência, o de patológico; porém, esta construção só faz sentido dentro da própria medicina, processo endógeno. Contudo, a existência e a experiência humana não podem abandonar a principal consideração sobre o comportamento humano, ou seja, a subjetividade.

Chegou o mês de abril que propõe a Conscientização Mundial sobre o Autismo. O Autismo ou Transtorno do Espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, uma disfunção neurológica que compromete a comunicação, a interação social com a presença de comportamentos repetitivos (estereotipados). Estas características estão presentes em todas as pessoas com TEA, mas o grau de intensidade é diferente em cada indivíduo. O Autismo é uma condição permanente na vida de uma pessoa, por isso, o mais importante antes de qualquer coisa, é amarmos incondicionalmente essas pessoas que trazem uma singularidade no olhar, no jeito de ser e nas descobertas de seu mundo particular.

"Em vez de sonhar com um milagre, a gente aprende a faze-lo." Essa é uma passagem do livro “Um Mundo À Parte“, da autora Jodi Picoult que nos conta de forma ímpar de suspense, drama e ficção a história de Jacob Hunt é um adolescente com síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo. A autora parece habitar no mesmo mundo que Jacob, pois consegue orquestrar em letras as imperfeições, os desafios e os dilemas de compreender as pessoas que amamos, especialmente as atitudes que por elas são assumidas em momentos repentinos, nas relações familiares e com as pessoas que amamos como sinaliza em outra passagem do livro: “nos lembra que a verdade muitas vezes não tem a forma que esperamos [...] é tanto um olhar terno sobre a profundidade do amor materno quanto um exame doloroso de como tratamos aqueles que são diferentes“.

Aqui retomamos e enfatizamos a referência que a diversidade no comportamento humano é possivelmente normal e o exercício da empatia e da paciência devem ser nossos principais parceiros nessa jornada cotidiana para construir um mundo de inclusão e mais consciente. Sim, somos capazes disso! Nosso papel de seres humanos em inserí-los na sociedade e ensiná-los de diversas formas o que muitas vezes não conseguem aprender sozinhos. Falar e explicar parece óbvio, contudo, pode ser que não funcione com um autista, então, vamos mostrá-los como fazer!! Eles são muito inteligentes, sabia?! Vamos ajudá-los a conhecer o nosso mundo!!

Os autistas têm desenvolvimento intelectual, podendo alguns casos apresentar dificuldades na coordenação motora e atenção, mas não existe um determinante limitador sobre a sobre o processo de aprendizagem de atividades escolares e da vida diária. Alguns pacientes com TEA podem apresentar tais dificuldades em maior ou menor grau ou simplesmente não apresentar. As suas habilidades sensoriais como audição, visão, tato, paladar e olfato são preservadas, entretanto, podem apresentar, por exemplo, uma variação de sensibilidade diversa ou desigual em relação a determinado som, estímulo visual, entre outros. Os autistas apresentam um comprometimento na comunicação e interação social e, muitas vezes, associamos a uma “conduta antissocial”, o que não é correto avaliar. Em razão da sua “maneira particular” de SER AFETIVO, os portadores de TEA podem ser vistas como pessoas com dificuldades de estabelecer vínculos afetivos.

Por uma falta de compreensão com um autista, acabamos nos deparando com situações que desconhecemos o porquê e nem sempre sabemos como lidar. Daí pensamos: “Olha, está de pirraça”, quando, na verdade, não se trata disso, e sim, diante de alguma sobrecarga sensorial, ansiedade, contrariedade, nervosismo ou, até mesmo, uma forma de linguagem não-verbal na qual ele não consegue se expressar, desorganizando-se e causando muitas mudanças no seu comportamento. É quando nesse momento, ao invés de criticá-los, por que não encontrar novas maneiras para uma melhor compreensão da sua limitação? Eles podem desenvolver diversas habilidades!

Então qual a contribuição da Assistência Psicológica ao paciente com autismo?

Em geral, os portadores de autismo têm um comprometimento das suas habilidades para usar a linguagem. Por isso, a psicoterapia ‘tradicional’, centrada na fala, precisa ser ampliada, pois eles apresentam ansiedade social e um modo diferente de pensar uma vez que eles não interpretam igual os signos, sinais e expressam com um sentido próprio o que estão vendo ou pensando. O repertório do Psicólogo apreende ferramentas cognitivas e comportamentais para lidar com auto-estimulação, intercâmbios sociais (pistas sociais) e com os relacionamentos na escola e no trabalho, sendo primordial a construção do vínculo na relação terapêutica: conhecer o caso do paciente de forma integral; um plano de trabalho (metodologia) para cada paciente e suas particularidades; estar atento a multidisciplinaridade (parceria com outros profissionais) e convocar os Pais e responsáveis devem ter participação efetiva com a criança, adolescente ou adulto.

Ressaltamos que o quanto mais precoce o diagnóstico melhores são as possibilidades de garantir uma melhor condição de vida para o autista.

Referências:

CANGUILHEM,G. O normal e o patológico, 4ª Ed.- Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2009.

PICOULT, J. Um Mundo À Parte. Verus Editora, 2013.

Juliana Araújo Ribeiro - Psicóloga e Pós Graduanda em Neurodesenvolvimento Atípico Infantil: comportamento e aprendizagem

Luciene Figueiredo – Psicóloga e Doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea


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