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PRECISAMOS CONVERSAR SOBRE O ADOECIMENTO



Todos nós caímos!

Muitas vezes, nos importamos mais se os outros viram nossa queda do que com os efeitos trágicos desse desmoronamento existencial.

Quanto é necessário suportar para poder "simplesmente" dizer: "está doendo!" Ou "preciso de ajuda!"? Nessa sociedade mercantil, qual o peso de dizer tais palavras? O que a vida reserva àqueles que desmoronam em silêncio? E o que esse silêncio nos diz sobre o nosso "convívio" social?

O cair é um movimento natural que nos possibilita uma reconexão com os nossos sentimentos e com o sofrimento que nos acompanha. Contudo, estamos num ritmo acelerado de tal forma que não percebemos o quanto nosso corpo está enrijecido e desregulado, culminando no surgimento de doenças e transtornos que passam a ser incapacitantes para a execução da rotina diária.

O contato com as emoções, dessa forma, passa a ser entendido como autodestrutivo, pois o homem não é feito para amar, sentir ou relacionar-se fora da lógica utilitária, mas é produzido para produzir. E a cada minuto que passa, a guilhotina da obsolescência se aproxima na corrida incessante por "existir".

Hoje as imagens conseguem representar quase tudo e, comumente, estão centralizadas na espetacularização da dor e do sofrimento. Mesmo assim, a dor pulsa velada, nos acompanhando e nos possuindo a cada passo na linha de produção que se tornou a existência.

Para justificar a dor, tornaram-na análoga a um vazio, naturalizado como inerente ao sujeito e que impulsiona-o à vida. Como a intensidade, a vida, o devir podem fluir em um ser marcado por um ralo onde os seus territórios existenciais se esvaem em prol de novas formas normatizadas de subjetivação? Acredito, pois, que até possa existir ali um sujeito, mas não a sua potência.

O que, então, essas imagens despertam em nós, se não contornos que nos aprisionam na obrigatoriedade de vivenciar uma vida feliz diante de todas as outras que estão infelizes, por não conseguirem corresponder aos modelos estabelecidos de qualidade de vida?

Assim, a vida é percebida como uma disputa entre os felizes e os infelizes, os bons e os maus. Nesse perspectiva, não nos permitimos perceber a vida como uma viagem entre bons e maus encontros, que nos intensificam ou nos despotencializam, diante das possibilidades da existência.

Devido a necessidade de estar sempre pronto e saudável para produzir, surge, paradoxalmente, nos moldes da espetacularização, uma competição para saber quem foi acometido pela pior desgraça, não para receber algum tipo de assistência, mas para ser reconhecido como forte e resiliente frente às adversidades.

Essa dinâmica, nos leva a última pergunta: como nós percebemos alguém em sofrimento?

Os indivíduos que, em virtude do sofrimento, adoecem e diminuem sua produtividade são considerados fracos, preguiçosos, e oportunistas. Então, uma pessoa que sofre é vista como uma pessoa que falhou em "gerenciar" sua vida e o seu sofrimento é, meramente, a punição por sua fraqueza, por seus desvios.


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